Escolhendo uma Distribuição Linux

Eu acompanho o do Avi Alkalay há algum tempo e já o vi em alguns eventos por aí. Acho interessante acompanhar os posts de alguém bem antenado, com um bom nível cultural e… bem, e ver um pouco da IBM nas suas postagens. Neste em especial, acho que a visão da IBM no mercado de Software Livre ficou mais transparente, e gostaria de comentar um pouco. Antes de mais nada eu gostaria de dizer que respeito profundamente o trabalho deste profissional, e acredito que estou aqui discordando em alguns pontos sobre o que ele escreveu, mas estou discordando fraternamente.

Enfim, uma coisa que fica claro quando lemos o Guia Livre do governo federal (ver cap. 2.2.2 “Razões para adoção de Software Livre”) é que se você migra para Linux pensando apenas em cortar custos, você terá problemas no caminho. Uma das grandes vantagens costuma ser a independência de um único fornecedor. Ficar dependente de um fornecedor é ruim por natureza. É um princípio de mercado. Seus negócios não devem depender totalmente de um único fornecedor, seja de matéria-prima, serviços ou máquinas. Software Livre ainda tem haver com liberdade. Eu realmente admiro por exemplo o Oracle e o DB2, mas prefiro o PostgreSQL onde eu tenho liberdade de escolher quem vai me dar suporte. As distribuições como Debian, Gentoo, Slackware e os BSDs livres, tem comunidades muito sérias atrás. Eu sei, o pessoal sempre diz: “mas eu preciso de alguém para segurar o rojão quando tiver um problema sério. Não posso contar com a comunidade apenas!”. Bom, eu gostaria de dizer que o suporte de algumas empresas (IBM, Oracle, Red Hat, Novell) nem sempre é bom. São incontáveis as vezes em que a comunidade me oferece respostas mais rápidas. Se fosse realmente bom, eles não precisariam atrelar as atualizações de segurança a um contrato de suporte. Muitos acabam pagando o suporte somente por causa das atualizações, todos sabem.

Estas empresas ainda competem pela qualidade do produto e não do serviço. Eu estou preocupado com a qualidade do serviço. Mas como estas empresas tem o monopólio dos serviços prestados sobre seus produtos, a qualidade e as opções tendem a cair. Algumas empresas não permitem que você utilize uma “versão não homologada” do software deles. Isto significa não poder recompilar o Kernel ou outra aplicação por exemplo. Vou lhe dizer que existem excelentes opções de suporte pago para as distribuições mantidas por comunidades. Mas o interessante, é que as empresas que prestam suporte soluções realmente livres, só sobrevivem se prestarem serviços de excelente qualidade. A competitividade é maior e isto já está acontecendo também no Brasil. Conheço empresas que fornecem soluções de alta qualidade para seus clientes, com compilações de software especiais para as necessidades dos seus clientes a custos muito atraentes e utilizando profissionais altamente qualificados. E o melhor de tudo é que você tem o direito de não gostar da empresa e chamar outra para prestar exatamente o mesmo serviço.

Vender licenças de softwares amplamente utilizados parece estar saindo de moda. É um movimento lento mas inflexível, particularmente nas grandes empresas (que se preocupam mais com a independência de fornecedor). O modelo onde os custos dos serviços amortizam os custos do desenvolvimento pode também não sobreviver para sempre. Ao fim e ao cabo, o Software Livre traz na sua liberdade a questão de remunerar melhor a competência, e não o papel. Entenda por papel um certificado, uma licença, uma patente outros conjuntos de átomos que não precisam se converter obrigatoriamente em bytes. Isto coloca em cheque grandes empresas e dá oportunidade para profissionais talentosos. O modelo de negócios baseado em soluções livres precisa de pessoas que pensem diferente. A IBM é um exemplo de como a liberdade é importante. Ao lançar o IBM-PC com um barramento aberto, proporcionou o florescimento de um ecossistema fantástico a sua volta. Depois, quando lançou um barramento proprietário, o MCA, perdeu espaço rapidamente no mercado que criou novos padrões abertos.

Estes dias li documentos da IBM propondo a migração do PostgreSQL e MySQL para o DB2. Vejam por vocês mesmos os links aqui e aqui. É claro que o DB2 tem qualidades fantásticas. Algumas das quais eu sei que os SGDBs livres terão muito trabalho para implementar. O DB2 é um excelente SGDB e praticamente inventou o SQL, não sendo a toa que é um dos que tem melhor conformidade com o padrão – vale lembrar que a equipe do PostgreSQL nunca pode participar do comitê que normatiza o padrão SQL, apesar de serem os que mais investem na conformância com o seu padrão. Mas veja bem, você migraria?

No entanto eu não acredito que as grandes empresas vão deixar de existir, mas acredito que a concorrência os farão rever seus conceitos e melhorar seus serviços. Assim ocorreu a liberação das versões gratuitas do Oracle, DB2 e do SQL Server, assim como a Microsoft lançou versões mais baradas do seu SO. Assim será com a prestação de serviços, conforme outras empresas ganhem terreno na qualidade dos serviços prestados. Quem ganha com este movimento são os bons profissionais de informática que tem seus serviços valorizados em detrimento de valores construídos sobre pilhas de papel. Ganham também os tomadores de serviço que terão serviços de melhor qualidade, com opções mais diversificadas e custos mais compatíveis com a qualidade dos serviços contratados.

Comments

4 respostas para “Escolhendo uma Distribuição Linux”

  1. Avatar de Avi Alkalay

    Bom artigo.

    Seu ponto de ter escolha é importante. É a base do capitalismo. Mas quando você tem escolha de mais no nivel do produto acaba fragmentando o mindset do produto em sí, e ele perde força. Por isso ter muitas distribuições Linux as vezes atrapalham a “idéia Linux”.

    Agora, quando você tem um mesmo produto que é um padrão e várias pessoas fornecendo suporte para ele: quanto mais escolha de serviço melhor. Mas isso ainda não é o caso das distribuições Linux. Há muitas.

    Há uma perversão na visão das pessoas que ainda precisam associar as coisas a produtos. Imagine um gerente médio de informática, numa empresa qualquer. É difícil para ele e sua equipe entender o dinamismo da comunidade open source. Apesar de ele ser da áres de tecnologia, está mais preocupado em garantir a operação de sua empresa. Para esse gente (é a grande maioria das pessoas), desassociar o suporte do produto em sí é algo complicado de se pensar.

    Para você ou para mim, entender esse dinamismo é fácil. Estamos metidos nisso até o pescoço. Mas não é a mesma coisa para o nosso gerente, ou para o gerente de nosso gerente. Ele precisa ter alguém para quem ligar e um contrato garantindo que será atendido.

    Contrato de suporte são travesseiros. Você deita e dorme tranqüilo sobre eles. Eles ainda servem para isso hoje. Infelizmente.

  2. Avatar de Fernando Ike

    Vamos lá.

    Liberdade?

    Não entendo a liberação da especificação como algo ligado à liberdade, para empresas assim isso é apenas uma forma de negócio, uma forma de difundir seus produtos. A especificação de Ultraparc pela Sun está aberta, então também é um exemplo de liberdade? Creio que não seja por aí.

    O Capital achou enxergou uma forma de usar a força de trabalho muito bem qualificada de muitos voluntários de software livre para melhorar seus produtos com custo muito baixo.

    Ah, sim. Os travesseiros é numa linguagem exdrúxula – “Tira do meu e põe o rabo dele na reta” =X

    Toda essas grandes empresa na sua prática de mercado é suja, vai competir com elas para sentir na pele. =/

  3. Avatar de Ronaldo
    Ronaldo

    Uma dúvida:
    Pq a equipe do PostgreSQL não pode participar do comitê que normatiza o padrão SQL e pq não participa do benchmark do TPC?

    Qual seria o problema em migrar para DB2?

    Obs.:entenda isso como uma dúvida mesmo.

    Vale lembrar que há documentação, fóruns e manuais preparatórios para certificação DB2 que são oferecidos gratuitamente.

  4. […] abaixo. A conversa não é nova, já foi discutida a exaustão em inúmeros lugares, inclusive aqui e esta infelizmente não será a última. Graças a campanhas difamatórias de grandes empresas […]

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