Sobre minha saída da Timbira

Há 14 anos, durante o PGConf.Brasil 2009, lá na UNICAMP em Campinas/SP, 4 pessoas se reuniram e idealizaram a criação da primeira empresa dedicada exclusivamente ao PostgreSQL no Brasil. Essas pessoas eram eu, o Euler Taveira, o Dickson Guedes e o Fernando Ike. Foi esse grupo que pensou nas bases para a criação da Timbira. No final, apenas eu e o Euler entramos como sócios e os demais acabaram não se envolvendo na empresa nesse momento. Em janeiro de 2010, saiu o CNPJ da Timbira. Esse é o nome fantasia, pois já havia uma empresa com esse nome na cidade onde eu morava na época, em São Bernardo do Campo. Conforme eu fui me mudando, a empresa foi se mudando junto, primeiro para São Caetano do Sul, depois para São José dos Campos. Se bem que isso nunca fez muita diferença, acaba sendo mais uma questão burocrática, pois a empresa nunca teve uma sede física.

A ideia inicial da Timbira era muito simples: juntar profissionais que já trabalhavam com PostgreSQL e oferecer serviços sem o intermédio de outra empresa no meio. A ideia era conseguir receber uma remuneração decente pelos nossos serviços, já que eram poucos profissionais com experiência nessa área (estamos falando de 14 anos atrás) e já acumulávamos uma certa reputação no mercado. Nessa época, estávamos organizando o terceiro evento nacional de PostgreSQL no Brasil, com um público bastante empolgado e tal. Chegamos a pensar em montar uma cooperativa ao invés de uma empresa tradicional, mas vimos que isso seria muito complicado, ainda mais com a distância geográfica entre as pessoas. Abrimos uma empresa tradicional, eu e o Euler. Alguns anos depois, o Fabrizio Mello entrou para a sociedade também e nos tornamos 3 sócios.

A Timbira, na maior parte da sua história, consistia em 3 sócios, atendendo alguns clientes aqui e ali. Eu era o único que ainda tinha um emprego formal além de trabalhar na Timbira. Aos poucos a empresa foi se estruturando um pouco aqui e ali. Conquistamos uma carteira de clientes fixos, tínhamos um modelo de contrato, proposta comercial, etc. E os 3 sócios se revezavam nas tarefas administrativas da empresa. Eu fiquei por um bom tempo responsável pela parte comercial. Começamos a investir no marketing também. Um novo logo, um novo site e aos poucos fomos arrumando a casa. A Timbira também resolveu bancar a organização do PGConf 2018 no mesmo ano em que abandonei meu emprego numa multinacional para finalmente me dedicar em período integral na Timbira. Em 2018, demos um belo salto e começamos a crescer com mais vigor, até 2020, quando a pandemia nos encontrou prontos para crescer ainda mais. Nesse ponto, o Euler saiu da sociedade e foi para a 2ndQuadrant, que depois foi comprada pela EDB e se afastou da empresa.

2020 foi um ano complicado, foi o ano em que eclodiu a pandemia. O PGConf.Brasil teve uma edição 100% on-line, o Euler saindo da sociedade e o Fabrízio também estava bastante inclinado a sair, mas acabou ficando. No entanto, em 2021, ele deixou de trabalhar em tempo integral na Timbira e também foi trabalhar para outra empresa fora do país. Eu fiquei com a maior parte da gestão na mão e começamos a contratar mais gente rapidamente. A equipe cresceu e se estruturou, criando processos, métricas e todo um arcabouço que se cria quando você precisa trabalhar com uma equipe maior.

Nasceu uma nova Timbira, com uma equipe incrível, com capacidade de fazer muitas coisas bacanas. Ao mesmo tempo, algumas coisas foram ficando para trás. Não acredito que a Timbira se tornou uma empresa ruim, muito pelo contrário. Tenho orgulho de tudo o que ajudei a construir. No entanto, foi crescendo um desconforto e situações que culminaram com a minha saída da empresa no meio de 2023. Sair da Timbira não foi um processo tranquilo. Foi como um divórcio. Com advogados, negociações difíceis e tudo o mais. Não quero comentar sobre o processo. Foi ruim. Eu saí chateado, os que ficaram devem estar chateados comigo também. A coisa terminou de tal forma que eu sequer pude me despedir da equipe antes de sair definitivamente. Eu acho triste, mas separações são complicadas mesmo. A gente leva tempo para digerir tudo.

Eu aprendi muito na Timbira. Errei muito, acertei muito também. Gosto muito da equipe e me orgulho de ter unido grandes profissionais e montado um time excepcional. A Timbira se tornou muito maior que os seus fundadores. Novas pessoas tem novas ideias e vão alcançar novos patamares. E assim a Timbira continuará crescendo e alçando novos voos. É assim que funciona.

Vou continuar apoiando o PostgreSQL, a comunidade de Software Livre e todos que vierem somar nesse caminho. Esse ano ainda participei de alguns dos vários PGDays que a comunidade organizou brilhantemente por todo o país, entre outros eventos que fui convidado a participar. 2023 foi muito louco mesmo, definitivamente não foi um ano fácil pra muita gente, mas está terminando bem. Espero que todos os que se aventuram a trabalhar nessa área apaixonante tenham sucesso nesse ano e nos próximos que virão!

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