Atualizado: além de inúmeros erros de ortografia (estava usando uma máquina sem corretor ortográfico…) adicionei uma parte sobre a meritocracia, que julgo ser importante.

No ano passado ocorreu algo inusitado durante o PGCon Brasil 2007. Um dos palestrantes sumiu do mapa de repente e ficamos com um furo na grade do evento. Então, eis que o Sr. Diogo Biazus em tempo recorde prepara uma palestra intitulada “PostgreSQL Br – Manual de Uso“. A palestra foi um grande sucesso e abordou um assunto que me incomoda há tempos: como participar de comunidades de SL. Infelizmente os slides da palestra do Diogo não revelam a riqueza da palestra. É claro que em alguns minutos de preparação não seria possível fazer melhor, mas o fato é que eu gostaria de compartilhar um pouco do assunto com as pessoas que não estiveram no evento e combinar isso com a minha experiência pessoal.

<devaneio>
Este post começou com uma provocação de um grande colega, o mestre fike. Eu dizia no IRC que me sentia frustrado por ter encampado uma campanha desastrosa para numa ação específica da comunidade de PostgreSQL-BR. Aí veio a provocação: “E o que você aprendeu com isso?”. Eu tinha a resposta na ponta da língua. Na verdade eu ainda estou com as sábias palavras do Sr. Diogo Biazus ecoando na mente. Mas como diria o Beto Guedes: “A lição sabemos de cor, só nos falta aprender…”. E eu devo dizer que eu sou cabeça dura… então cá estou eu escrevendo novamente. Acredito que aprendo muito quando escrevo, já é uma prática antiga minha. Acho que todos deveriam escrever o que pensam. Ao escrever, (com suas próprias palavras, não copiando), compilamos uma série de idéias em algo que deve fazer sentido para quem lê. Ainda tenho muito o que aprender… acho que o dia em que eu conseguir traduzir o que penso com poucas e simples palavras, serei uma pessoa mais sabida. Menos é mais… sei disso, só não sei como fazer ainda. Quem sabe na minha próxima palestra no FISL não consigo diminuir o número de slides… falar menos e ensinar mais?
</devaneio>

Motivos para participar de uma comunidade de SL

A primeira coisa que aprendi é que existem vários motivos que levam as pessoas participar de uma comunidade. O que nem sempre é óbvio é que nem todos estão lá pelo mesmo motivo que você. Mais que isso, nem sempre você mesmo tem clareza dos seus motivos. Você pode entrar com um propósito, continuar por outros e sair por algo completamente alheio a tudo isso.

  1. Você quer aprender mais sobre a tecnologia X: este é o motivo que leva a maioria das pessoas a participar de uma comunidade. Veja que este não pode ser o único objetivo de todos, afinal, se todos quiserem apenas aprender, não haveria ninguém para ensinar. Mas a sede de conhecimento é algo que também tem as suas nuâncias. Há pessoas que querem aprender sobre determinada tecnologia por acreditarem que ela seja interessante por N motivos, há aqueles que são curiosos, há quem o faça por obrigação. Mais que isso, as pessoas estão acostumadas a aprender de formas diferentes. O conhecimento não é algo linear, não está contido em um livro ou em uma pessoa, ele existe e se recria a partir das relações humanas. Tarzan jamais aprenderia a falar, ler e escrever com livros numa ilha deserta. A relação entre os seres humanos é fundamental neste processo. Portanto as comunidades são espaços privilegiados para o aprendizado, pois é um ponto de encontro de pessoas dispostas a discutir sobre um assunto específico.
  2. Você quer conhecer gente que gosta da tecnologia X: fazer amizades com pessoas com interesses semelhantes é um bom motivo para se entrar numa comunidade. Isto pode significar querer aprender mais sobre a tecnologia X, mas pode significar encontrar pessoas com as quais você gostaria de tomar cerveja, conversar no IRC de madrugada ou filosofar a ermo por aí. Nerds, Geeks, Hackers, seja como se denomina ou se intitulam estas pessoas, elas gostam de se encontrar e se organizar em grupos, não apenas para aprender, mas para conviver. Este é um lado muito importante das comunidades que algumas vezes são subestimadas: a diversão. Algumas pessoas são atraídas pelo simples fato de ser divertido, pelo ponto de encontro privilegiado da comunidade.
  3. A vaidade, é um motivo muito comum. Você quer ser reconhecidas pelo seu talento, seu conhecimento, sua capacidade e seus feitos. Apesar da vaidade ser vista como um pecado, com um pouco de bom senso ela não chega a ser um problema e pode ser canalizada para uma grande virtude. O mundo perderia muito se os grandes gênios não compartilhassem com o mundo as suas grandes invenções. O fato é que a vaidade existe as comunidades convivem com ela o tempo todo. Há de se entender que um falso modesto pode ter uma presença parasitária enquanto um vaidoso sincero pode ser uma grande dádiva se alimentado corretamente. Por fim, lhes digo, o fato de montar um blog e exibi-lo ao mundo não tem uma ponta de vaidade?
  4. Você quer se projetar profissionalmente. Assim como o aprendizado é irmão da amizade e da diversão, a vaidade é quase que gêmea da ambição. Você quer melhorar de vida ou não? O segredo do sucesso profissional não está apenas no conhecimento ou na sua capacidade técnica, está também no seu networking. Não adianta ser puritano e achar que você não pensa em ter sucesso profissional. Uma boa comunidade sempre foi um espaço de livre trânsito entre profissionais de uma área específica. Ser conhecido entre os profissionais mais destacados de uma comunidade poder ser uma boa porta para novas oportunidades. De fato, quando alguém precisa de um profissional com um perfil específico, para um trabalho importante, buscar uma indicação de alguém de destaque da comunidade é um caminho seguro. Os profissionais chaves, assim como executivos, não são encontrados em classificados ou empresas de consultorias, são encontrados por indicação. Você nunca será indicado para uma posição assim se não for conhecido.
  5. Você quer ser altruísta e ajudar as pessoas de alguma forma. O Software Livre tem este chamariz que trás paz de espírito a pessoas de bom coração. Particularmente, este é um dos motivos mais citados ao se participar de uma comunidade e um dos menos realizados. Sejamos francos… numa lista de discussão de milhares de pessoas, quantos realmente ajudam com alguma coisa? Há no plano corporativo uma relação de “ganha-ganha”, que faz com que grandes empresas contribuam com algumas comunidades. Este tipo de investimento costuma ter retorno em termos de marketing interno e externo e também retorno em termos de redução de custos. Portanto, não podemos ignorar o fato de que o altruísmo tenha suas compensações. Mas de fato, ajudar pode ser gratificante, ainda mais se ele vier acompanhado com novas amizades e compartilhamento de conhecimento. É um trio realmente imbatível no plano do indivíduo.
  6. Você é um evangelizador e quer mudar o mundo. Isto é muito parecido com o altruísmo, mas tem diferenças notáveis. Os evangelizadores não querem apenas ajudar, eles querem mudar o mundo. O apelo do SL para este tipo de pessoa é muito comum. Discussões sobre patentes, licenças e coisas do gênero tem vazão plena entre os evangelizadores. Muitos acham os evangelizadores chatos, mas eles são importantes, pois são o contrapeso da comunidade. O evangelizador, se não se desgastar numa verborragia sem eco podem propor mudanças de qualidade significativas para a comunidade, podem humaniza-la. Sim, não se espantem, os chatos podem ser parte importante da humanidade.

Problemas comuns encontrados nas comunidades de SL

As pessoas estão no meio deste caldeirão fervilhante da comunidade. Muitas coisas bacanas e ruins acontecem neste meio. Cada vontade pode ter seu lado positivo e negativo, dependendo da sua dose, forma e momento histórico em que a comunidade se encontra. A fusão de forma e conteúdo é tão importante nas comunidades que deveriam haver estátuas erguidas em torno desta idéia. Você não pode ser vazio de conteúdo, você deve ter algo a dizer ou então se calar. Mais do mesmo não traz nada de interessante, assim trazer alguma informação nova é importante. Mas tão importante quanto a mensagem é como ela chega aos seus receptores. O mesmo conteúdo, quando lapidado em sua forma se traduz num recepção completamente distinta. Cada comunidade possui a sua própria etiqueta, suas regras e códigos de conduta. Estas regras nem sempre são uma camisa de força, podem até ser modificadas, mas devem ser seguidas.

Mesmo com forma e conteúdo em harmonia, exitem alguns problemas intrínsecos aos motivos que o levam a querer participar da comunidade:

Participe

Se você é uma daquelas pessoas que está entrando agora, está com todas as boas intensões do mundo, saiba que há inúmeras formas de se colaborar com uma comunidade. A mais importante dela é sem dúvida ajudar a melhorar o software. Lembre-se que por mais que sejam importantes outras contribuições, a comunidade não existiria se o software não existisse. Esta deveria ser a meta de todos os membros da comunidade. No entanto segue algumas coisas que você pode fazer:

Meritocracia é a chave da participação na comunidade. Meritocracia – em comunidades de SL – significa que quem faz tem mérito e quem não faz não tem. Simples assim. As decisões são tomadas por aqueles que fazem. É muito comum as pessoas ficarem esperando que algum líder, cacique, chefe, mentor, ou seja lá o que for, delegar uma tarefa para você. Surpresa… isso não acontece. Você deve se candidatar às tarefas e não esperar que alguém lhe escolha para isso. Na maioria das vezes você faz alguma coisa e só depois apresenta para a comunidade o resultado do seu trabalho. É simples assim:

É muito comum algumas pessoas participarem de várias ações ou se especializar em uma tarefa. Existem pessoas cuja participação vem em ondas, participando ativamente por um tempo e desaparecendo depois. Existem pessoas que gostam de algumas tarefas e odeiam outras. Uma coisa universal é que todos erram. Eu falhei miseravelmente em vários momentos. Acho que algumas pessoas já ficaram um tanto aborrecidas com os meus erros. Já venho errando há alguns anos… espero estar apto a acertar mais e cometer novos erros no futuro.

12 respostas

  1. Grande Telles 🙂

    Conseguiu extrair conhecimento de relacionamentos com a comunidade e agora compartilha com o mundo.

  2. Interessante seu texto.
    E valido para todos que queiram participar de uma comunidade e que queiram entender como a coisa funciona e que tenham paciencia para ver funcionar.
    Sou realmente um apaixonado pelo PostgreSQL(desde a muito tempo) e sempre me preocupei demais com a velocidade dos processos e procurei ajudar o sistema como um todo, na maioria das vezes tentando acelerar as coisas.
    Fico feliz por hoje as coisas parecerem mais rapidas e mais organizadas. Merito de todos os membros da comunidade.
    parabens para todos.
    As vezes sumir eh o melhor remedio mesmo.

  3. Cara, o texto fala tudo que se precisa saber para participar de uma comunidade de SL.
    Infelizmente tem muita gente que tem mais uma melancia no pescoço do que códigos gerados nas distribuições. Esses malditos “estrelinhas” das comunidades é que estragam tudo, pois não tem consciência da idiotice que estão cometendo.
    O dia que as comunidades brasileiras chegarem no patamar das comunidades lá de fora, aí tudo vai melhorar mas enquanto isso, as melancias rolam e as estrelas brilham…

  4. Olá Fábio,

        Parabéns pela iniciativa!
    
        Acreditei, acredito e sempre vou acreditar que somente é possível dizer que aprende-se algo somente quando for possível ensinar isso à alguém e este alguém aprender, isto é, imortalidade e amadurecimento do conhecimento.
    
        Fazer com que alguém aprenda é fazer com que ele te "ouça", exige bem dizer tudo o que está acima escrito por ti aplicado às regras de conduta numa comunidade, seja ela digital, virtual ou real.
    
        Escrever bem é uma forma de ser ouvido, aproveitar disso para fazer alguém aprender é algo mais, é organizar as idéias em palavras e exemplos simples, plausíveis e inseridos no contexto do aprendiz. Por isso, antes é preciso se colocar no lugar deste para saber como passar o conteúdo com poucas palavras e objetivamente, o que caracteriza a sabedoria, como você mesmo escreveu: "… acho que o dia em que eu conseguir traduzir o que penso com poucas e simples palavras, serei uma pessoa mais sabida."
    
        Parabéns e continue lutando pelo que acredita!
    

    Abraços,

              Junior Polegato
    
  5. Muito bom o texto, ótimo resumo! Eu acho que boa parte dessas práticas e conceitos deveria ser incentivado nas faculdades e escolas. Escolas sim, porque colaborar pode ser algo ensinado desde cedo.

    Abraço!

  6. Parabéns pelo texto, está muito bom. Uma leitura obrigatória para quem quer contribuir para o software livre.

    Aqui no Brasil, as comunidades não são tão fortes, mas aos poucos isso vai melhorando. Espero que seu texto ajude as pessoas que estão querendo participar de alguma comunidade e não sabem como.

    Abraço.

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