Há tempos atrás eu descobri o Blog do Mussi. Dando uma passeada por lá encontrei uma referência a um artigo muito interessante chamado “CMMI no olho dos outros é refresco“. O artigo foi escrito pelo Sr. Mateus Velloso que possui em seu currículo uma quantidade impressionante de letrinhas relacionadas a certificações da Microsoft em seu currículo. O negócio deu tanta polêmica que quase dois meses depois ele escreveu uma contunuação/resposta ao primeiro artigo chamdado “Ainda sobre o CMMI e o refresco“.
<delírio>
Lembro de um professor muito bom que tive na faculdade. Toda semana tínhamos que ler praticamente um livro para a sua aula. Ao chegar na aula ele não discutia o livro, não explicava o que o autor dizia. Ele falava sobre porque o autor dizia aquilo. Para qual público ele se dirigia, o que ele queria provar com aquelas idéias, quais posições ele queria defender e atacar. Seu curso foi bem difícil, com uma bibliografia pesada, mas suas aulas eram incríveis e acho que aprendi muito lá. A grande questão é aprender a fazer a leitura das intencionalidades. As ações das pessoas são repletas de intencionalidades. Na educação, dizem que existe um currículo oculto, que são as coisas que se ensina sem contudo coloca-las explicitamente na grade do curso. Pode-se ensinar a repetir, copiar, obedecer, como pode-se ensinar a questionar, criar e comparar. O currículo oculto reflete a intencionalidade do educador com seus educandos.
</delírio>
Então vejo o texto do Sr. Mateus Velloso, que traz uma análise de intencionalidades. Encontramos uma tentativa desesperada do mercado em depender menos de pessoas talentosas e poder se contentar com profissionais medíocres e descartáveis. Enquanto alguns insistem em dizer que há falta de bons profissionais no mercado, o mercado vai sendo inundado com péssimos profissionais que desenvolvem soluções de baixa qualidade. Não importa a técnica que você empregue, é preciso investir mais na sua equipe. Bons profissionais levam tempo para se formar. Um bom programador leva 5 anos para se formar numa boa faculdade, em geral em período integral. Depois leva mais 5 anos trabalhando na área para poder amadurecer. Então este profissional que já deve estar com seus quase 30 anos descobre que é difícil sustentar uma família sendo um programador. Você acaba aceitando uma posição administrativa, coordenando equipes ao invés de programar. E assim, o que poderia se tornar um bom programador acaba se tornando um mau chefe.
<mais delírio>
Estes dias meu pai me explicava uma teoria interessante sobre médicos. Eu dizia a ele que é difícil confiar na opinião de um médico e que quando você vai com um problema em 5 médicos, é comum ter 5 opiniões diferentes. Aí ele me explicou algo que parece óbvio, mas não havia me ocorrido antes. Você tem que entender como o médico é remunerado para poder interpretar a sua atitude. Se o médico recebe uma remuneração fixa mensal, então ele tenderá a não recomendar nenhuma intervenção cirúrgica ou tratamento que vá dá trabalho para ele. No entanto, se o médico ganhar por procedimento, então ele tenderá a carregá-lo rapidamente para a mesa de cirurgia e recomendar tratamentos intermináveis.
E engana-se quem pensa que indo a médicos caríssimos estará livre deste tipo de situação. Você verá doutores muito conceituados com este tipo de prática. Aí olhamos para os hospitais, os convênios e a indústria farmacêutica e tudo faz sentido!
E como você escolhe um bom médico? No meu caso eu conto com o bom senso da família, que me indica o médico certo para cada tarefa que vá além de colocar um gesso ou receitar uma aspirina. Lembro de um programa onde a pessoa ia contratar um empreitero para reformar a sua casa e levava um cachorro enorme seu junto. Se ele concordasse com os termos do empreiteiro e o cachorro gostasse da pessoa, ele contratava. Parece besteira, mas faz sentido!
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Agora, se você quer saber como uma instituição funciona, sua capacidade de atender suas demandas, investigue a forma como os seus funcionários são selecionados e descartados. Sim senhor, investigue isso, leve seu cachorro para cheirar a empresa. Todo consultor quer vender consultoria, é claro! Eles sempre lhe acharão um novo método revolucionário para reinventar a roda. Pode ser CMMI, PMI, ISO alguma coisa e por aí vai. Se a fundação Abrinq cria um selo de “Empresa amiga da criança” para as fábricas de brinquedo venderem mais, imagine o que os consultores não lhe empurrarão. Mas você não verá consultores questionando a sua forma de contratar seus empregados, quanto você paga a eles ou seu estilo de comando.
Realmente… seria bom se você pudesse ir para o supermercado e escolher os produtos que vêm com um “selo de qualidade” e ficar tranqüilo. Comprar software é realmente uma tarefa difícil. Então, devo dizer que quando escrevi aqui um texto sobre “compra de software corporativo” não levei em consideração isso. Pobre daqueles que dependem de licitações para comprar software, pois não podem levar seu cachorro para a mesa de negociação.
Por fim é curioso que o autor, mesmo sendo uma pessoa com siglas suficientes no currículo com o carimbo da Microsoft, acaba por fim acreditando em muitas coisas que a turma do Software Livre já está careca de saber. Não que eu vá acreditar piamente no modelo Bazar de desenvolvimento. Não existe uma solução única para todos os problemas. Mas quem se acostumou a usar menos o mouse, sabe que isso não é uma simples piada. É realmente possível ser muito mais produtivo lançando mão da perfurmaria e se concentrando em soluções mais robustas. É meu caro Velloso, nós acreditamos em muito do que você acredita também! E acreditamos tanto nas pessoas, que temos a coragem de acreditar na comunidade!